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segunda-feira, 28 de março de 2016



Estudar política observando a estrutura social Kachin e Chans - Alta Birmânia, é romper com um contexto positivista estabelecido e enfrentarmos as contradições existentes em cada região sob investigação. Sob que circunstâncias podemos dizer de duas sociedades vizinhas A e B que essas duas sociedades têm estruturas sociais fundamentalmente distintas, enquanto entre duas outras sociedades C e D podemos afirmar que nessas duas sociedades a estrutura social é essencialmente a mesma? Enquanto de um lado, pesquisador e sempre usaram o conceito de estrutura social como uma categoria por meio da qual se pode comparar uma sociedade com outra, tratando-as como se elas existissem durante todo o tempo em equilíbrio estável, percebemos e descrevemos por outro lado que sociedades reais não podem jamais estar em equilíbrio. Precisamos observar as ideias sobre a distribuição de poder entre pessoas e grupos de pessoas na forma de fazer cultura, na situação demográfica, econômica, ecológica e de politica externa dessas sociedades reais no tempo (história) e no espaço (ambiente) em constante mudança. Reforço: Toda sociedade real, seja a Kachins ou Chans, Gumsa ou Gumlao, com sistema político democrático, anarquista ou monárquico passam por mudanças de cunho coerente com uma continuidade da ordem existente ou por vezes, refletem modificações na estrutura social formal. Precisamos de mudanças deste último tipo aqui no Brasil!

Penso que quando não me comprometo com meu grupo ou classe, e fico a espreitar a exposição cruel dos mais próximos a mim na guerra violenta por direitos, acabo por me transformar naquela rapariga que substitui a venda de pano pelos óculos escuros.
"A rapariga dos óculos escuros – “Mãezinha, paizinho…Não está ninguém, disse a rapariga dos óculos escuros, e desatou-se a chorar encostada à porta…, não tivéssemos nós aprendido o suficiente do complicado que é o espírito humano, e estranharíamos que queira tanto a seus pais, ao ponto destas demonstrações de dor, uma rapariga de costumes tão livres..." José Saramago - Ensaio sobre a cegueira.

Ao deitar e ainda estudando o livro de Clifford Greertz - O saber local: novos ensaios em antropologia interpretativa, recordo Machado de Assis ao afirmar que: A liberdade não é surda-muda nem paralítica. Ela vive, ela fala, ela bate as mãos, ela ri, ela assobia, ela clama, ela vive da vida. Boa noite!


Chegando agora em Natal depois de um fim de semana na casa dos meus pais. Hoje, reflito e aproveito cada momento com meus familiares, irmãos, primos, tios e principalmente com meus pais. Percebo como perdi tempo com tantas outras coisas na minha adolescência e dediquei tão pouco tempo a ouvi-los. É aí que paro e busco a cada folga, feriado ou ligações, sentir o gosto de saborear a presença deles comigo. Chega um tempo que não há mais tempo para estarmos longe uns dos outros, precisamos estar de mãos dadas, nesse jornadear finito pela terra!

"... Que sei eu do que serei, eu que não sei o que sou? 
Ser o que penso? Mas penso ser tanta coisa! 
E há tantos que pensam ser a mesma coisa que não pode haver tantos! 
Génio? Neste momento 
Cem mil cérebros se concebem em sonho génios como eu, 
E a história não marcará, quem sabe?, nem um, 
Nem haverá senão estrume de tantas conquistas futuras. 
Não, não creio em mim. 
Em todos os manicómios há doidos malucos com tantas certezas! 
Eu, que não tenho nenhuma certeza, sou mais certo ou menos certo? 
Não, nem em mim... 
Em quantas mansardas e não-mansardas do mundo 
Não estão nesta hora génios-para-si-mesmos sonhando?" 

(Fragmento) Álvaro de Campos, in "Poemas" 
Heterónimo de Fernando Pessoa.



Nota: Recebi sexta-feira com tremenda dor na alma e tristeza a notícia de sua partida querida amiga Verônica... Quantos a julgaram, desprezaram-na, não compreenderam seu silêncio? Silenciosamente nos deixastes rumo ao além e nenhuma nota nas redes sociais, a bandeira do município ou da escola onde trabalhavas não tremulou em homenagem de adeus por ti. Não eras "ninguém" para muitos ou apenas um corpo que precisava de descarte e por isso providencias foram tomadas por piedade cristã na hora de transportá-la à terra... E a igreja onde tu confessou e entregou sua vida ao Cristo Ressuscitado? Por lá não passasses, fostes acolhida sob o olhar de imagens inertes, forçasses entrar em uma igreja e encontrastes uma. Oh! Como meu peito estremeceu com essa notícia. Quantas confissões fizemos um ao outro sob o telhado do Céu na esperança de que um dia eu, você veríamos as lutas findarem e um novo amanhecer vitorioso chegar. Amiga, não pude visitá-la, flores não levei ao teu leito, mas palavras te confio, na certeza de que quem tem Jesus Cristo não morre jamais, apenas dorme a esperar o dia raiar, quando Ele a semelhança das histórias de príncipes e princesas irá lhe despertar do sono com palavras: vem amada minha, eu vim te buscar!

segunda-feira, 7 de março de 2016

Amanhã será o Dia Internacional das Mulheres, deixo aqui minha homenagem a todas, sem exceção. Sejam eternamente damas!

Grande desejo
Adélia Prado

Não sou matrona, mãe dos Gracos, Cornélia,
sou mulher do povo, mãe de filhos, Adélia.
Faço comida e como.
Aos domingos bato o osso no prato pra chamar cachorro
e atiro os restos.
Quando dói, grito ai.
quando é bom, fico bruta,
as sensibilidades sem governo.
Mas tenho meus prantos,
claridades atrás do meu estômago humilde
e fortíssima voz pra cânticos de festa.
Quando escrever o livro com o meu nome
e o nome que eu vou pôr nele, vou com ele a uma igreja,
a uma lápide, a um descampado,
para chorar, chorar, e chorar,
requintada e esquisita como uma dama.