Porco
Espinho!
Atualmente
ando envolvido entre leituras e reflexões sobre a narrativa do meu Trabalho de
Conclusão de Curso – TCC, de uma pós-graduação em Saúde Coletiva e Saúde Mental
sob o título: RELAÇÃO DAS POLÍTICAS AFIRMATIVAS PARA OS HOMOAFETIVOS NO
CONTEXTO DAS UNIDADES DE SAÚDE EM AREZ – RN: desmistificando corpos,
sexualidade e saúde mental. Mesmo assim, sempre preocupado com a “governança
hospitalar” e acompanhando as notícias sobre todas as ações realizadas na
prevenção ou “isolamento físico” em tempos de pandemia do COVID – 19 em meu
município de origem e ou onde resido atualmente; norteadas por normas técnicas
severas, pois tem como propósito evitar riscos de contaminação e infecção nas
populações.
Em
meio de análises em relação a política brasileira como produto facilitador de
uma nova reforma no atendimento dos homoafetivos nas unidades básicas de saúde
(UBS), identificando-os como parte da sociedade que ainda lutam para
conquistar, preservar e ampliar direitos iguais para todos, me deparo com a
preocupação com meus familiares e pessoas que lutam pela sobrevivência em
tempos de crise na saúde, buscando reenquadrar os planos e estratégias de vida,
de forma a seguir produzindo planos de forma adaptada às condições associadas a
pandemia; Além de tentar manter ativa a rede socioafetiva, estabelecendo
contato, mesmo que virtual, com familiares, amigos e colegas.
Nos
últimos dias, porém, esse estado de não isolamento junto a rede socioafetiva tende
a nos deixar ainda mais preocupados com as reações comportamentais - o que é comum, de pessoas, que incluem
desde medo de: adoecer e morrer; perder as pessoas que amamos; perder os meios de subsistência ou não poder
trabalhar durante o isolamento e ser demitido; ser excluído socialmente por
estar associado à doença; entre tantos outros motivos. Pois bem, durante uma
pandemia é esperado que estejamos frequentemente em estado de alerta,
preocupados, confusos, estressados e com sensação de falta de controle frente
às incertezas do momento.
Contudo,
isso não nos licencia para exigirmos das autoridades em saúde dados/informações
hospitalares, o PEP (Prontuário Eletrônico do Paciente) ou em papel - a
principal ferramenta - que o médico precisa ou precisará lidar nas suas
atividades diárias, seja no consultório, centro diagnóstico ou hospital. Desta
forma, para facilitar o fluxo de informações no dia a dia, muitos estão
procurando demonstrar a sociedade resultados de exames para a COVID -19 como
forma de deixar claro à quem questiona sobre o pré-atendimento em saúde que vai
desde a interação do hospital com os clientes antes de sua chegada física até o
pós-atendimento: o relacionamento com o paciente após a sua saída do hospital.
Isso é
algo terrível! A Constituição do Estado brasileiro de 1988, considera a saúde
como direito do cidadão e dever do Estado, dessa forma, precisamos cumprir as
medidas de distanciamento físico, consideradas desagradáveis por quem as
experiencia mais de extrema relevância em nossos dias.
Mas
isso não nos dá o direito de provocar sofrimento e insegurança nas pessoas que
estão sendo contaminadas ou em recuperação, nem usarmos da violência com
aqueles/as que estão na linha de frente ao combate e cuidado com os já
infectados pelo coronavírus. São tantos os relatos de profissionais da saúde
sendo estigmatizados ao retornarem para suas casas após horas de entrega e
apreensão nas unidades hospitalares; idosos estão mais propensos ao agravamento
da sua condição de saúde em função da COVID-19, principalmente, quando
apresentam comorbidades, tais como diabetes, hipertensão e cardiopatia, que
acabam por exacerbar os riscos da infecção pelo novo coronavírus, uma vez que
podem dificultar o enfrentamento e a recuperação da doença. Temos visto que esse
público tem sido alvo constante de piadas e preconceito. Pessoas em Situação de
Rua, centenas de refugiados, solicitante de refúgio e apátrida, outras encarceradas
e cumprindo medidas socioeducativas, trabalhadores das unidades prisionais e
profissionais do sistema de garantias de direitos, precisam de ações de
proteção ao contágio de todos e não de rótulos negativistas. É preciso lidar
com o futuro imprevisível.
Portanto,
ao ler o livro “O dilema do porco-espinho: como encarar a solidão”, de Leandro
Karnal, pude perceber na análise criteriosa que o autor faz sobre o filósofo
Arthur Schopenhauer, ao descrever minuciosamente a metáfora “do dilema humano:
solitários, somos livres, porém passamos frio.”
Hoje,
mais do que nunca, demonstramos comportamentos estranhos ao discriminar, usar
de violência seja de natureza física ou psicológica contra nossos semelhantes;
criticar ao invés de orientar principalmente idosos e crianças por de repente
estarem nas ruas sem se importarem com o processo pelo qual estão passando –
algo nunca visto e que quebrou a rotina dos mesmos, é algo cruel.
Como
afirmou Karnal em seu livro escrito ainda em 2018, parecendo ser uma profecia em
relação a “pandemia” e o uso irresponsável das redes sociais que disseminam
preconceito, fakenews, medo e crítica exacerbada aos gestores municipais do SUS
(Sistema Único de Saúde): “Tudo de bom e de ruim vem do jogo de contrastes
entre companhia e solidão. Não existe solução ideal, apenas consciência. Não
existe vacina, apenas clareza dos males. Não existe cura, pois solidão se
encerra com a morte, que, aliás, será vivida de forma absolutamente solitária.”
Em outras palavras, essa busca por contato nas redes sociais sofre dois tipos
de efeitos, uma positiva: estamos mais próximos uns dos outros e outra negativa,
isolados em nós mesmos e em nossos interesses. Foucault já afirmava: todo
discurso é sempre uma expressão de desejo e poder! Mas isso é conversa para
outro texto...
Quero
encerrar ainda sob as luzes de Karnal, somos à semelhança dos porcos espinhos
de Schopenhauer, ou aprendemos a conviver juntos e separados em tempos de
pandemia ou chegaremos a barbárie de a todo custo eliminarmos uns aos outros,
inclusive quem mais amamos, na luta pela sobrevivência. Eu prefiro superar o
estresse advindo dessa situação ao seu lado, mesmo que por aqui!