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sexta-feira, 22 de maio de 2020


Porco Espinho!
Atualmente ando envolvido entre leituras e reflexões sobre a narrativa do meu Trabalho de Conclusão de Curso – TCC, de uma pós-graduação em Saúde Coletiva e Saúde Mental sob o título: RELAÇÃO DAS POLÍTICAS AFIRMATIVAS PARA OS HOMOAFETIVOS NO CONTEXTO DAS UNIDADES DE SAÚDE EM AREZ – RN: desmistificando corpos, sexualidade e saúde mental. Mesmo assim, sempre preocupado com a “governança hospitalar” e acompanhando as notícias sobre todas as ações realizadas na prevenção ou “isolamento físico” em tempos de pandemia do COVID – 19 em meu município de origem e ou onde resido atualmente; norteadas por normas técnicas severas, pois tem como propósito evitar riscos de contaminação e infecção nas populações.
Em meio de análises em relação a política brasileira como produto facilitador de uma nova reforma no atendimento dos homoafetivos nas unidades básicas de saúde (UBS), identificando-os como parte da sociedade que ainda lutam para conquistar, preservar e ampliar direitos iguais para todos, me deparo com a preocupação com meus familiares e pessoas que lutam pela sobrevivência em tempos de crise na saúde, buscando reenquadrar os planos e estratégias de vida, de forma a seguir produzindo planos de forma adaptada às condições associadas a pandemia; Além de tentar manter ativa a rede socioafetiva, estabelecendo contato, mesmo que virtual, com familiares, amigos e colegas.
Nos últimos dias, porém, esse estado de não isolamento junto a rede socioafetiva tende a nos deixar ainda mais preocupados com as reações comportamentais  - o que é comum, de pessoas, que incluem desde medo de: adoecer e morrer; perder as pessoas que amamos;  perder os meios de subsistência ou não poder trabalhar durante o isolamento e ser demitido; ser excluído socialmente por estar associado à doença; entre tantos outros motivos. Pois bem, durante uma pandemia é esperado que estejamos frequentemente em estado de alerta, preocupados, confusos, estressados e com sensação de falta de controle frente às incertezas do momento.
Contudo, isso não nos licencia para exigirmos das autoridades em saúde dados/informações hospitalares, o PEP (Prontuário Eletrônico do Paciente) ou em papel - a principal ferramenta - que o médico precisa ou precisará lidar nas suas atividades diárias, seja no consultório, centro diagnóstico ou hospital. Desta forma, para facilitar o fluxo de informações no dia a dia, muitos estão procurando demonstrar a sociedade resultados de exames para a COVID -19 como forma de deixar claro à quem questiona sobre o pré-atendimento em saúde que vai desde a interação do hospital com os clientes antes de sua chegada física até o pós-atendimento: o relacionamento com o paciente após a sua saída do hospital.
Isso é algo terrível! A Constituição do Estado brasileiro de 1988, considera a saúde como direito do cidadão e dever do Estado, dessa forma, precisamos cumprir as medidas de distanciamento físico, consideradas desagradáveis por quem as experiencia mais de extrema relevância em nossos dias.
Mas isso não nos dá o direito de provocar sofrimento e insegurança nas pessoas que estão sendo contaminadas ou em recuperação, nem usarmos da violência com aqueles/as que estão na linha de frente ao combate e cuidado com os já infectados pelo coronavírus. São tantos os relatos de profissionais da saúde sendo estigmatizados ao retornarem para suas casas após horas de entrega e apreensão nas unidades hospitalares; idosos estão mais propensos ao agravamento da sua condição de saúde em função da COVID-19, principalmente, quando apresentam comorbidades, tais como diabetes, hipertensão e cardiopatia, que acabam por exacerbar os riscos da infecção pelo novo coronavírus, uma vez que podem dificultar o enfrentamento e a recuperação da doença. Temos visto que esse público tem sido alvo constante de piadas e preconceito. Pessoas em Situação de Rua, centenas de refugiados, solicitante de refúgio e apátrida, outras encarceradas e cumprindo medidas socioeducativas, trabalhadores das unidades prisionais e profissionais do sistema de garantias de direitos, precisam de ações de proteção ao contágio de todos e não de rótulos negativistas. É preciso lidar com o futuro imprevisível.
Portanto, ao ler o livro “O dilema do porco-espinho: como encarar a solidão”, de Leandro Karnal, pude perceber na análise criteriosa que o autor faz sobre o filósofo Arthur Schopenhauer, ao descrever minuciosamente a metáfora “do dilema humano: solitários, somos livres, porém passamos frio.”
Hoje, mais do que nunca, demonstramos comportamentos estranhos ao discriminar, usar de violência seja de natureza física ou psicológica contra nossos semelhantes; criticar ao invés de orientar principalmente idosos e crianças por de repente estarem nas ruas sem se importarem com o processo pelo qual estão passando – algo nunca visto e que quebrou a rotina dos mesmos, é algo cruel.
Como afirmou Karnal em seu livro escrito ainda em 2018, parecendo ser uma profecia em relação a “pandemia” e o uso irresponsável das redes sociais que disseminam preconceito, fakenews, medo e crítica exacerbada aos gestores municipais do SUS (Sistema Único de Saúde): “Tudo de bom e de ruim vem do jogo de contrastes entre companhia e solidão. Não existe solução ideal, apenas consciência. Não existe vacina, apenas clareza dos males. Não existe cura, pois solidão se encerra com a morte, que, aliás, será vivida de forma absolutamente solitária.” Em outras palavras, essa busca por contato nas redes sociais sofre dois tipos de efeitos, uma positiva: estamos mais próximos uns dos outros e outra negativa, isolados em nós mesmos e em nossos interesses. Foucault já afirmava: todo discurso é sempre uma expressão de desejo e poder! Mas isso é conversa para outro texto...
Quero encerrar ainda sob as luzes de Karnal, somos à semelhança dos porcos espinhos de Schopenhauer, ou aprendemos a conviver juntos e separados em tempos de pandemia ou chegaremos a barbárie de a todo custo eliminarmos uns aos outros, inclusive quem mais amamos, na luta pela sobrevivência. Eu prefiro superar o estresse advindo dessa situação ao seu lado, mesmo que por aqui!