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terça-feira, 23 de junho de 2020
domingo, 21 de junho de 2020
Deus não precisa castigar as pessoas pelos pecados. O pecado já é o próprio castigo, devora as pessoas por dentro. O objetivo de Deus não é castigar, Sua Alegria é curar.
A Cabanasexta-feira, 19 de junho de 2020
quinta-feira, 18 de junho de 2020
quarta-feira, 17 de junho de 2020
A Casa...
Quando criança, sempre era levado por
meus pais a velha casa dos meus avós maternos, sítio Adequê – Jucurutu, RN.
Comunidade simples, algumas casas espalhadas pelo torrão árido, onde podíamos contemplar
em toda extremidade da estrada: galinhas, cabras, vacas e outros animais de
pequeno e médio porte.
Era sempre maravilhoso visitar meus avós:
José Alves Fernandes e Deocleciana Vieira de Melo, um homem multirracial casado
com uma mulher branca. Além dos traços físicos e marcas genéticas nas feições
dos dois, formavam um casal unido e dispostos a construírem uma família longe
de opiniões ou sentimento em relação a algo já preconcebido como desfavorável
ou negativo – o racismo.
A casa no sítio tinha uma grande varanda
e era muito cheia de alegria. Um pequeno quarto ao lado da casa, servia como
uma espécie de armazém/comércio, para estoque e comercialização de produtos
utilitários nas tarefas diárias da família (despesa e custeio), como para venda
aos transeuntes que procuravam suprir seus desejos já que a cidade ficava há
alguns quilômetros da zona rural, onde estavam.
Lembro-me do cheiro da casa como se
fosse hoje, dos mimos que meu avô fazia questão de nos fazer, nos enchia de
guloseimas: pirulitos, pipocas e confeitos. Era impossível rejeitar tanto amor
disfarçado de açúcar.
Ao longe, ouvíamos a voz forte de minha
avó Deocleciana impor sua autoridade a uma de nossas primas – Maria, à quem ela
havia assumido a responsabilidade de criá-la e por ser muito “elétrica”, corria
sem parar da velha casa onde estávamos à residência de uma de nossas tias
também chamada de Maria! Aliás, Maria é
um nome muito utilizado nas comunidades rurais e assume uma devoção por quem em
muitos momentos da vida, longe dos centros urbanos e sem atendimento à saúde,
só podia apelar em tempos difíceis, como era a hora em que muitas mulheres
precisavam dá a luz bebês, recorriam exclusivamente a mãe da humanidade – a virgem
Maria.
A vida na zona rural há trinta anos
atrás era bem difícil, sem eletricidade, gás e ou outros luxos que dispomos com
facilidade nos dias atuais. Porém, o sítio dos meus avós era um lugar que tinha
o açude por trás da casa, os caminhos em zigue-zague que mais pareciam formarem
labirintos a serem desbravados e o olhar atento do velho pastor de cabras que
sentado na calçada do grupo escolar, ao longe, a tudo contemplava.
A noite, as conversas debaixo do céu
escuro, as lamparinas a queimarem seus pavios de algodão embebidos no
querosene, pareciam marcar como relógios bem acertados o momento de inicio e
fim das estórias, causos, verdades de um tempo marcado pela experiência dos
mais velhos. Histórias de vida expostas pela oralidade e marcadas em nossas
mentes como lições de quem detinha a maturidade dos anos, a força do trabalho e
a preocupação com o futuro da humanidade.
Encontrávamos na sala grande os velhos
baús, neles todo tipo de coisa era guardado, tesouros para quem na humildade era
rico e para quem nasceu rico os via como insignificantes. Tudo é uma questão de
ótica. Para mim, eram baús de felicidade, a espera do guardador de chaves,
único responsável por abri-los a nos desvendar seus mistérios – a esperança;
lembranças protegidas que jamais seriam violadas como foi a caixa de Pandora,
primeira mulher criada por Zeus.
Corria muito pela estrada que aberta em
meio há alguns arbustos, ligava a casa de meus avós à casa de minha tia Maria.
Era um vai e vem, um frenesi numa ida e vinda, de cá para lá, tudo numa
demonstração de busca por afetividade, destruição da monotonia, um verdadeiro
cruzamento de humanidade na certeza de que viver em família nada mais é do que
viver em comunidade. Longe disso, seriamos prisioneiros do tempo, onde as
grades invisíveis da ansiedade nos proporcionariam visões funestas do futuro.
Era na estrada de terra que fazíamos ligações
entre a cosmovisão e a existência após a morte. Nessa mesma estrada vi parentes
passarem deitados em redes e carregados por pessoas rumo a última viagem que
seus corpos fariam nesse mundo. Muito comum os cortejos fúnebres em um tempo
que as redes eram utilizadas como caixões delicados a balançarem os pobres
economicamente em lugares esquecidos pelos afortunados: grandes latifundiários,
políticos, comerciantes.
A casa ainda deve ser nossa referência
nesse planeta. Quando leio Miguel de Cervantes Saavedra – Dom Quixote, muitas
vezes considerado um romance moderno, clássico de nossa literatura ocidental,
ao lembrar das personagens emblemáticas: Dulcinéia, Rocinante, Benengeli; me
deparo com o Sancho Pança e Dom Quixote em diálogos que me fazem lembrar de que
a “nossa casa é o mundo”, ela ainda é o nosso porto seguro. Jesus Cristo, por
vezes, também demonstrou aos seus discípulos que os mesmos deveriam perseverarem
e não terem medo de retornarem à sua casa – o céu!
Assim, toda vez que vejo imagens como a
que ilustra inicialmente esse texto, voo às lembranças de minha infância e me
vejo saltitante entre o trigo do campo, observando meus avós em sua labuta, a
criarem relações interpessoais de afeto, respeito, caráter que moldaram em
mim, em minha família a certeza de que vale a pena ter esperança na humanidade e
nunca desistir do retorno para casa!