É natural que ao longo da vida recebamos
avaliações, tanto de pessoas quanto de situações, que regem a nossa história e
se tornam verdades absolutas. Algumas
são boas, outras ruins, mas na maioria das vezes nós nem percebemos ou conseguimos
mudar essas referências. Este mecanismo natural faz parte do nosso processo de
crescimento e joga contra nossa evolução e autoestima.
Hoje ao ser convidado por “alguns” amigos
professores para assistir ao evento de abertura da Jornada Pedagógica 2021 do
município de Santana do Matos-RN, da Palestra de Abertura: Educação em tempos
de pandemia: desafios, perspectivas e inovação, pude mais uma vez observar como
a escolha de negar a realidade como forma de escapar de uma verdade
desconfortável parte não apenas de quem está no poder, como também de alguns
que lutam por vezes por mudanças no cenário educacional. As decepções ao longo
da carreira levam esses profissionais à insatisfação. Seja por condições de
trabalho ruins, estrutura precária, baixos salários (a não implementação do
piso salarial, o que é Lei) e falta de reconhecimento.
Mesmo assim, em momentos como esse, de
palestras e seus oradores (famosos ou anônimos), muito bem pagos por suas horas
de dedicação nesses eventos midiáticos ou não, encontramos por meio deles um
repertório que já sabemos o que traz: a ideia majoritária de quem os contratou.
Entre blá, blá, blá teórico, uso de
estratégias circenses ou até mesmo no uso de jargões humorísticos, há sempre
uma ideia dominante por trás. A vontade do patrão sobre a do trabalhador, do
opressor sobre o oprimido, do patriarca contra qualquer esforço de igualdade
por parte da mulher, da mulher “bem casada” como exemplo de virtude e
superioridade diante da adúltera (rapariga), entre o político eleito e os
cidadãos.
É notório como alguns dos meus colegas
se deixam impressionar com discursos manipuladores, distantes da realidade da
escola ou mantenedores de uma ideologia que continua alargando distâncias entre
os que deveriam pensar e se organizarem enquanto cidadãos conscientes e os que
detém a força de trabalho. Não mais desanimador é o “efeito rebanho” ou cascata
de água perene ladeira abaixo; elogios, aplausos de alguns professores que ou
por ignorância, rasos de leituras ou àqueles que sempre estiveram contaminados
com o vírus chamado “xeleléu” – bajuladores de plantão, ou acostumados a
receberem benesses (cargos os mais diversos, menos ocuparem as suas verdadeiras
funções que é a sala de aula), precisam a todo momento demonstrarem aos seus
superiores (venhamos e convenhamos, também são profissionais em cargos passageiros)
que os apoiam. Ervas daninhas são esses bajuladores, catequizadores quando
atuam no contexto da sala de aula, longe da vista de seus superiores. Esquecem
que a educação deveria ser laica! Estamos longe de vê-la laica, há dificuldades
para esses senhores/senhoras do tempo presente abrirem-se para a diversidade.
O que dizer daqueles diretores/diretoras
das mais diversas repartições da educação que antes militavam em prol dos
direitos dos trabalhadores? O espírito da muda baixou neles/nelas, a voz
confunde-se com uma diplomacia carregada de conveniências sociais que os
impedem de serem a voz nos espaços de fala (nas mídias ou não), tudo em prol do
“status quo” que ostentam. Antes, eram “companheiros/companheiras dos explorados/as”
pelo poder público, agora são irmãos/irmãs leais da participação nos cargos
comissionados – fodam-se os antigos companheiros/companheiras.
Por fim, a roda gigante da vida costuma
girar!
Esses “alguns” - “cangaceiros
pedagógicos do bem” (se houve ou há esse cangaceiro/a do bem), confundem-se com
os próprios “morcegos sombrios”. Em tempo de pandemia, a educação agoniza pela
falta de vacinas esquecidas lá dentro da própria escola: Pedagogia do Oprimido,
O Ato de Ler, Pedagogia da Autonomia. Paulo Freire ainda deixou vários outros
antídotos para a nossa educação. Precisamos usá-las, estudarmos mais e mais...
ou do contrário, seremos presas fáceis de “pedagogias ilusórias”, psicólogos
brincando de serem professores, secretários de educação que não têm domínio e
nem acesso aos recursos financeiros da pasta que assumiram, brincam que
administram, são espantalhos expostos as aves de rapina, homens e mulheres de
lata em busca de um coração para si e para educação, marionetes nas mãos de
políticos que não sabem o que verdadeiramente é educação.