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sexta-feira, 7 de janeiro de 2011

Viagem




Dizem que o número 7 (sete) tem significado de perfeição e durante esses primeiros dias do ano, pensei muito sobre tudo o que aconteceu em minha vida no ano de 2010 e nos anteriores a esse. Passou um filme em minha mente! Lembrei do interior de onde eu vim e de pessoas que já se foram para a eternidade, mas que constantemente vem em nossas lembranças fazer uma rápida visita e nos proporcionar o que os poetas chamam de saudade. Pensei nos primeiros anos de escola e vi a professora Maria Pereira e sua filha Aldenora em frente ao Externato Senhora Sant’Ana, aguardando seus alunos para a aula do dia, todos “religiosamente fardados”. Vi a Praça Aluísio Alves com suas duas fontes de água a jorrar em pleno centro da cidade e suas árvores que antes nos dava sombra e servia para o encontro dos casais de namorados a noitinha. Lembrei dos motoristas da empresa nordeste sendo recepcionados na casa de Dona Maria Beca, do estilista que não ganhou sucesso ou jamais conheceu a fama, mas que vestiu muita gente que no futuro seria personagens da política ou que fariam mudanças na história de um município como Santana do Matos. Refiro-me ao senhor Soares, costureiro em uma época em que moda era sinal de moral estampada no comprimento e acabamento das roupas. Segui no caminho das minhas memórias e vi a Rua da Linha (hoje, Avenida 27 de Outubro) muito movimentada, pessoas indo e vindo num frenesi incontrolado na busca por produtos ou serviços, algo escasso para àquela cidadezinha em desenvolvimento. A bodega do Tibira era local disputado pelos homens bebedores de cerveja preta e a mercearia do João Paulino ditava as novidades cobiçadas e em expansão no mercado industrial ou de alimentos. Lembrei do seu Zé Cristalino e do casamento de Paula sua filha com meu irmão de criação Newton (Inácio), que festa! Dona Vicência era uma mulher que sabia fazer curas em pessoas feridas de cortes graves usando apenas uma agulha, linha e um pedaço de tecido que ela cozia sem parar em cima do ferimento, sem tocá-lo, apenas em ritmo de vai e vem como se fosse um médico ponteando ou fazendo sutura no lugar ferido. Impressionante como as pessoas saravam depressa! A parteira Ritinha era a mãe de umbigo da maioria dos santanenses que nasciam sobre seus cuidados; Manoel das Mães, marchante e comerciante de carnes no mercado público encantava os sábados de feira com seu jeito simples de conquistar os fregueses e em época de eleições, os comícios se tornavam mais animados com a presença do homem que desfilava pelas ruas da cidade segurando sempre um galho de árvore verde, uma bananeira ou qualquer outra planta verde que pudesse carregar em homenagem ao seu amado partido político o PMDB. Política sempre foi motivo de brigas, discórdias e apostas entre os bacuraus e as araras, entre o verde e o vermelho, sinal que diferenciava os dois lados de uma disputa gerada pelo desejo ardente de poder. Esse poder magoou muita gente, separou amigos íntimos, desfez sociedades e ou parcerias de sucesso econômico, levou a morte de outros. Tudo em nome daqueles que eram senhores das terras santanenses, fazendeiros ou herdeiros de um desejo genético de controlar um povo, um lugar. Lembro da difusora Tonheca Dantas e dos anúncios divulgados por esse serviço de som, as solenidades ou avisos de funerais que deixavam a população local avisada em tempos em que a internet não fazia sucesso como hoje, em que a velocidade das informações levava dias ou meses para se popularizar. Gente! E quem não reconhecia a voz de Cumpadin pelas ruas da cidade a oferecer suas raízes para chás que curavam toda espécie de doença, inclusive a pior delas: a falta de vergonha de muitos seres humanos! Lembrei do programa da emergência, época difícil de viver e que muitas pessoas se aglomeravam no açude dos caldeirões em busca de auxilio na antiga lavanderia pública localizada nessas imediações. A cidade de Bodó (antes distrito dependente de Santana do Matos), era lugar desejado pelos que queriam ficar ricos explorando scheelita e quem sabe outros minérios encontrados no interior daquele solo fértil em pedras de grande valor. Subi muitas vezes a ladeira do baxi ao lado de minha querida avó “Miminha” – mulher forte, corajosa, artesã, alfabetizada pela vida – sobre o carro pipa da família Duarte, que era dirigido pelo amigo Evaldo. Admirávamos aquela paisagem natural e os paredões de avelós verdes e com cheiro característico a enfeitarem a estrada de barro batido que ligava essas duas regiões. Fiz uma viagem pelo túnel do tempo e percebi que essas pessoas nos legaram uma cultura linda e cheia de sabedoria que nunca, jamais, poderá ser esquecida! Saudades dos pais da colega professora Dioneide Mendes, casal único no trato com as pessoas e em especial sua mãe, exemplo de fé e em meio às dores que enfrentou enquanto esteve doente que me levaram muitas vezes a refletir sobre a força da mulher santanense... Força que me fez chorar algumas vezes quando passava em sua calçada ao ir levar alguma correspondência na agência dos correios! Quando veio descansar, senti que ela ali, tinha dado um brado de vitória sobre a morte, pois estava se encontrando com o dono de sua própria vida: Jesus Cristo! Quantas Marias, Joãos, Aparecidas ou Franciscos poderia citar nessa viagem de volta a terra onde as águas fervem, os sítios arqueológicos são encontrados aos montões em pleno sertão central e ou a farinha e o algodão foram sinal de progresso durante tanto tempo. Sinto saudades de cada personagem, ator, atriz que compõe essa trajetória. Sou fã da verdadeira história de Santana do Matos, minha terra, meu chão, minha vida!

2 comentários:

  1. TUDO QUE AQUI ESCREVER SOBRE ESSE TEXTO MARAVILHOSO, ENCANTADOR, CARREGADO DE SENTIMENTO, SAUDADES, VIDA, SERÁ POUCO, MUITO POUCO. POIS O "DONO" DELE JÁ DISSE TUDO... E DISSE BRILHANTEMENTE, INCRIVELMENTE PERFEITO, LINDO, POÉTICO, COMO TUDO QUE ELE ESCREVE...

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    RÔMULO GOMES

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  2. Seus textos, querido Jufran, são de uma beleza, uma simplicidade que toca, emociona, encanta. Uma sensibilidade própria dos Grandes. Pra alguns talvez um amontoado de palavras, apenas um texto. Pra mim um baú cheio de sentimento, personalidade, emoção, vida no sentido mais autêntico que esta palavra pode ter.
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    RÔMULO GOMES

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