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quarta-feira, 13 de abril de 2011

 


MEUS OITO ANOS


Oh! que saudades que tenho


Da aurora da minha vida,


Da minha infância querida


Que os anos não trazem mais!


Que amor, que sonhos, que flores,


Naquelas tardes fagueiras


À sombra das bananeiras,


Debaixo dos laranjais!


Como são belos os dias


Do despontar da existência!


— Respira a alma inocência


Como perfumes a flor;


O mar é — lago sereno,


O céu — um manto azulado,


O mundo — um sonho dourado,


A vida — um hino d'amor!


Que aurora, que sol, que vida,


Que noites de melodia


Naquela doce alegria,


Naquele ingênuo folgar!


O céu bordado d'estrelas,


A terra de aromas cheia


As ondas beijando a areia


E a lua beijando o mar!


Oh! dias da minha infância!


Oh! meu céu de primavera!


Que doce a vida não era


Nessa risonha manhã!


Em vez das mágoas de agora,


Eu tinha nessas delícias


De minha mãe as carícias


E beijos de minha irmã!


Livre filho das montanhas,


Eu ia bem satisfeito,


Da camisa aberta o peito,


— Pés descalços, braços nus


— Correndo pelas campinas


A roda das cachoeiras,


Atrás das asas ligeiras


Das borboletas azuis!


Naqueles tempos ditosos


Ia colher as pitangas,


Trepava a tirar as mangas,


Brincava à beira do mar;


Rezava às Ave-Marias,


Achava o céu sempre lindo.


Adormecia sorrindo


E despertava a cantar!


................................


Oh! que saudades que tenho


Da aurora da minha vida,


Da minha infância querida


Que os anos não trazem mais!


— Que amor, que sonhos, que flores,


Naquelas tardes fagueiras


À sombra das bananeiras


Debaixo dos laranjais!
Casimiro de Abreu (1837-1860)

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