Seguidores

Total de visualizações de página

quinta-feira, 4 de agosto de 2011

MALAS

























Olhei para o ontem e me descobri carregando pesadas malas

Eram em torno de cinco e de cores diferentes:

Uma vermelha, uma cinza, uma verde, tinha de cor azul e uma com a minha cor favorita, branca!

Eram vários os tamanhos e formatos:

A vermelha era do tamanho daqueles antigos baús que minha vovó tinha em casa, a mala verde parecia com uma meia lua, a de cor azul era oval, a cinza mais parecia uma maleta daquelas usadas pelos médicos, fina e simples. Já a branca era sem detalhes modernos, mas tinha uma maciez de veludo.

Dentro de cada uma delas percebi detalhes de minha vida que foram sendo acumuladas ao longo dos anos, viagens por vários lugares aonde conheci pessoas diferentes, me encantei com as cores e ridicularizei quando foi preciso a monotonia monocromática das mesmas [...]

Em uma dessas malas, a de cor vermelha, encontrei um coração batendo com dificuldade, bombeando vento em vez de sangue, sentimento algum nele havia. Saudade nem pensar! Era pura e simplesmente razão a aflorar em um órgão que não soube o que é o amar.

Desiludido fiquei na ânsia incontrolada em achar um corpo quente, vigorante, que pudesse alojar esse coração solitário. Não encontrei ninguém vazio de um coração! Todos tinham um, já haviam encontrado sua outra cara metade.

Logo, vasculhei na segunda mala, a de cor azul um vidro grande com alguma substância que viesse conservar àquele coração sofrido: dexametasona, insulina regular, penicilina, glutationa, conservação a frio e outras. Não encontrei nada.

Vi uma concha, ou melhor, um fórceps, instrumento semelhante a uma tenaz. É utilizado na medicina obstetrícia para auxiliar a retirada de um feto e fiquei preocupado sobre o uso desse instrumento por mim ao longo da minha história de vida. Quando ou em que momento o utilizei? Confesso não saber, nem lembrar. Talvez tenham usado em mim e eu nunca tenha manipulado ele em ninguém. Foi nesse momento que verifiquei meu reflexo em um pequeno espelho encontrado na mala cinza. Era um espelho em forma retangular que apresentava um estranho reflexo: um ser de cabeça grande, olhos pretos, calvo, maxilar mais desenvolvido do lado direito do rosto e um nariz, bom, digamos que razoavelmente proporcional ao rosto.

Se era um monstro daqueles imaginados por Franz Kafka, isso eu não sei, porém era algo que não condizia com a moda vigente, padrão de beleza que a sociedade exige, modelo que a mídia utiliza para anunciar seus produtos ao mercado consumidor.

Fiquei preocupado com aquele rapaz e busquei uma maquiagem que havia guardado na mala verde, um homem metrossexual que se presa sempre tem um conjunto de pó, lápis para olhos e outros acessórios para aperfeiçoar o que já é belo em si mesmo. Encontrei apenas uma raspa de juá, planta típica do sertão potiguar que serve para ser usada depois de pisada, triturada e etc., como creme para os cabelos secos ou para escovação dos dentes. Algo paradoxal!

Pesadas malas, difíceis de carregar todas de uma só vez. Malas da minha vida!

Na mala branca, uma fotografia que revelava eu sozinho, ontem na pracinha, menino levado, pensamento descontrolado pela droga do sexo, olhar no horizonte a contemplar o céu.

Esperando apenas o transporte que me levará ao encontro daquele que pode sarar o corpo inteiro, inclusive a alma!

Oh! Nem um amigo, ajudante ou alguém que eu pudesse pagar e que me ajudasse a carregá-las. São malas pesadas! Pedras não estão cá dentro. Somente objetos de o meu pensar, dor de quem já sofreu, perdeu, desprezou e nunca soube o que é o amar!

Nenhum comentário:

Postar um comentário