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terça-feira, 12 de julho de 2011

Língua



















TRAVAGLIA, Luiz Carlos. Gramática e Interação: uma proposta para o ensino de gramática no 1º e 2º graus. São Paulo: Cortez, 1996, p.17-20.



TRAVAGLIA apresenta um texto sobre objetivos do ensino de língua materna e concepções de linguagem. Examina “o para que se dá aulas de uma língua para seus falantes”, buscando respostas para o aprimoramento do ensino da língua materna. A análise do autor evidencia a necessidade de desenvolver a competência comunicativa, gramatical ou lingüística e a textual, favorecendo aos estudantes o domínio da língua materna, ou sistemática, tendo em vista, principalmente, o entendimento das palavras e a combinação de suas orações na interação com o ambiente escolar, com outras pessoas. Diante das analogias existentes entre as competências mencionadas anteriormente, merecem destaque a competência textual e sua capacidade de interação comunicativa na compreensão e produção textual bem como na utilização de suas capacidades: formativa (possibilitando aos usuários da língua materna avaliar a boa ou má formação de um texto), transformativa (que possibilita aos usuários da língua materna resumir o texto. Resumo aqui, tem o sentido de recriação do texto original, exigindo a compreensão profunda do texto), qualificativa (que viabiliza aos usuários da língua o estudo de um texto observando-se a classificação em gêneros/tipos: carta, romance, anedota, receita, uma narração, um texto literário, etc.), em que a capacidade qualitativa complementa a capacidade formativa, à medida que garante aos usuários da língua criar textos. Buscando o equilíbrio entre o ensino da língua materna e o uso da linguagem no cotidiano, nesse contexto, destaca-se a figura do professor de português, cheio de indagações sobre: como conduzir o aluno ao domínio da língua padrão, ou norma culta e a variedade escrita da língua? O professor de português limita-se, na maioria das vezes, a características gerais (ao ensino da norma padrão culta que é o dialeto de maior prestigio no contexto social). Outras limitações, particulares, apresentadas (como a linguagem que empregamos em nosso cotidiano, sem formalidade), passam a ser necessária a intervenção de atividades metalingüísticas no ensino de teoria gramatical. Compete ao professor instruir os alunos a pensarem sobre a informação cultural e o uso da língua. Portanto, o texto de TRAVAGLIA tem a preocupação em estabelecer os principais objetivos no ensino da língua portuguesa (no caso cinco): desenvolver a competência comunicativa, dominar a norma culta, ensinar a variedade escrita da língua, como funciona ou está constituída e ensinar o aluno a pensar, a raciocinar. Parte do interesse do professor de língua portuguesa, conduzir, em seqüência lógica, o desenvolvimento cognitivo dos estudantes que já dominam a “língua materna”, ao processo de comunicação, no qual irá resultar na aprendizagem significativa por parte desses alunos, que ao aprenderem a dominar a própria língua, anteciparão suas próprias expectativas em relação aos conteúdos (verbal e não verbal dos textos). Segundo LUFT (1985: 47-48):

“O professor tradicional não se dá conta de que todo falante nativo ‘sabe’ sua língua, apenas precisa desenvolver, crescer, praticar em outros níveis e situações. Nunca ouviu falar em gramática ‘internalizada’. Falta-lhe em geral uma formação lingüística mais séria; ou leu e não acreditou nas novas teorias; ou é mais cômodo restringir-se a currículos impostos e livros didáticos adotados, adaptar-se a opiniões generalizadas e estabelecidas”.

 
Podemos também visualizar a realidade do ensino de língua portuguesa, pelo uso de uma linguagem que relaciona a compreensão da leitura de um texto por meio de “regras” necessárias para sanar eventuais dificuldades no diálogo ou no desenvolvimento da escrita. Ao abordar os objetivos para se ensinar a língua portuguesa aos alunos nativos da própria língua, nos é revelado que, a cada passo, devemos acompanhar a metodologia de ensino que reforça nas crianças a elaboração de normas estabelecidas como verdades únicas (só é certo o que diz a gramática padrão), em detrimento ou negação de seu dialeto popular . Conforme CAGLIARI (1994: 28):

“...O professor de português deve ensinar aos alunos o que é uma língua, quais as propriedades e usos que ela realmente tem, qual é o comportamento da sociedade e dos indivíduos com relação aos usos lingüísticos, nas mais variadas situações de suas vidas”.

Tudo isso nos revela a capacitação por que passam os estudantes brasileiros nas escolas, ao receberem instruções sobre um dialeto de prestigio, em detrimento ou longe da valorização da língua materna, suas variantes sociolingüísticas, bem como do seu papel funcional nas diferentes regiões brasileiras. Por fim, é preciso refletir sobre o processo de comunicação na base dos significados e dos referentes do ensino de língua portuguesa no ensino fundamental; cabe na medida em que vamos desmistificando sua base teórica e metodológica dentro do contexto escolar, reelaborar alternativas imprescindíveis que seja compreendida e aproveitada por professores no momento de divulgação da relevância em se apreender com prazer aos ajustamentos da comunicação. Como nos aponta LUFT (1985: 24):

 
“A gramática é o esqueleto da língua. Só predomina nas línguas mortas, e aí é de interesse restrito a necrólogos e professores de latim, gente em geral pouco comunicativa. [...] É o esqueleto que nos traz de pé, certo, mas ele não informa nada, como a gramática é a estrutura da língua mas sozinha não diz nada. Não tem futuro. As múmias conversam entre si em gramática pura”.


É essencial na (in)formação dos professores na atualidade, dominarem a teoria que embasa o ensino da língua portuguesa ( fonologia, morfologia, sintaxe e outras), em concordância com o processo de valorização em sala de aula do uso da língua descritiva (materna, coloquial) dos estudantes, reelaborando e ligando o conhecimento prévio desses alunos com o conhecimento científico/teórico dos professores, numa relação entre educando e educador, que apreendem uma língua um com o outro.


REFERÊNCIAS:

 
CAGLIARI, Luiz Carlos. Alfabetização e Lingüística. 7. ed. São Paulo: Scipione, 1994.



LUFT, Celso Pedro. Língua e Liberdade: por uma concepção da língua materna e seu ensino. Porto Alegre: L e PM, 1985.

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