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sábado, 4 de dezembro de 2010

GACC







Jufran Alves Tomaz¹

 
Falar sobre o cotidiano do “GACC - Grupo de Apoio à Criança com Câncer” não me parece fácil. O dia a dia de uma instituição sem fins lucrativos nunca é igual, é sempre processo, é sempre mudança. Por mais que o GACC seja bom, a cada dia evolui, se transforma, se constrói. O orçamento dessa instituição reserva recursos que provem de doações/ captações vindas de recursos da população, incluindo o trabalho de telemarketing e atraindo quantias crescentes de capital e conhecimento. A sofisticação das campanhas feitas por meio das notas fiscais retiradas ao ser efetuado compras nos supermercados do Rio Grande do Norte, reflete no ambiente das organizações não-governamentais, onde podemos já vê sonhos concretizados como: o elevador e a van (automóvel), que veio contribuir com o atendimento especial imprescindível às crianças e/ ou famílias atendidas pelo GACC. A estrutura da instituição é vertical e composta de quatro (4) andares e cada um se complementa numa rede de serviços que vai do atendimento odontológico, nutrição, apoio psicológico e de serviço social a doações de cestas básicas mensalmente às famílias atendidas. Considerando a “intersetorialidade” como ponto forte pelo qual os profissionais efetivos/voluntários optam por construir seu relacionamento com a diversidade, hoje, esse mecanismo de conduta tornou-se o horizonte dessa instituição. A despeito do quarto andar, destaca-se a capela que serve para os momentos ecumênicos e encontramos a área externa com lavanderia, que dá suporte ao enxáguo e secagem de roupas dos atendidos pela casa. No terceiro e segundo andares, encontram-se os apartamentos [quartos adotados por autônomos e ou grupos empresariais que resolvem ajudar a casa], destinados as crianças/famílias que se hospedam no GACC; salão de jogos educativos, biblioteca, sala de TV e vídeo, além de uma sala de isolamento [esse quarto é reservado às crianças que estão passando por fase de recuperação e que necessitam de maiores cuidados], outra de reforço interdisciplinar e pedagógico. Também podemos ressaltar que existe todo um aparato de segurança com câmeras de vigilância vinte e quatro horas por dia, redes de segurança em todo entorno das escadarias e adaptações especiais aos banheiros, mesas e cadeiras; bem como uma formação básica que assegure a cada profissional que atua na casa, uma consciência humanizadora quanto à dimensão dos processos sociais no contexto dessa instituição. Urge, por isso, a sucessão seguida de cada andar/espaço do GACC à magnitude desse ambiente que cerca mais de duzentos e sessenta e seis crianças e familiares, fugir à conexão que estabelecemos que o portador de câncer devesse viver e ser tratado em um lugar fechado, triste e cuja psicologização rasteira da enfermidade, anteriormente, tornava esses sujeitos maçãs podres em meio a uma caixa inteira de maçãs consideradas saudáveis. Além desses desafios, de caráter externo e interno, há ainda os desafios à própria área, que apontam algumas permanências ideológicas, comprometidas pelas posturas preconceituosas a atuação do profissional de psicopedagogia (corporificadas na tradição de que o psicólogo sozinho é capaz de atender todas as carências das crianças que são atendidas no GACC), que fragmentam o olhar e impedem o intercâmbio entre as diversas áreas do saber humano [não existe psicopedagogo no GACC], renovando a autonomia e a desalienação, por que passa as crianças/famílias cuidadas pelo grupo, tendo por base a superação dos danos causados pela doença que os cerca no processo de aprendizagem. Outros desafios internos à área são as ações voltadas para o contexto escolar (essas crianças com câncer ficam às vezes fora da escola por vários dias) e mesmo recebendo reforço das disciplinas no ambiente em que estão inseridas, não há nenhuma interação do GACC com as instituições de ensino (devemos lembrar que a casa de apoio a criança com câncer atende também adolescentes até os dezoito anos de idade), o que causa danos irreparáveis a esses seres abstratos, joãos e Marias, que buscam autonomia intelectual e superação do câncer. E, por fim, acreditamos que esse trabalho de visita e observação em uma instituição que atua na inserção de pessoas com câncer na sociedade, portanto, inclusiva, trouxe eficiência a nossa prática enquanto estudantes do curso de especialização em psicopedagogia e que nos será útil em diversas ocasiões de nossas vidas, amenizando as dificuldades no âmbito pessoal, profissional e social – produzindo um pensamento mágico de que é possível viver bem e melhor dentro de um ambiente no qual cada um de nós e todos nós sejamos considerados parte integral do todo, da comunidade, para alcançar esta “sociedade ideal” que, por sua vez é responsabilidade do conjunto de seus membros.

¹Estudante de Especialização em Psicopedagogia Institucional e Clinica.

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